Temos aqui o pontapé inicial para os fãs finalmente poderem
retrucar a velha provocação de que filmes e obras adaptadas do
universo ficcional da Marvel são infantis e coloridos demais.
Marvel's Daredevil puxou os pés do universo cinematográfico da editora e, com treze episódios de
pura violência, os pôs definitivamente no chão. E este chão é
sujo!
Lançada em abril de 2015, a série é uma das melhores adaptações de personagens em quadrinhos que eu já vi, ela nos faz esquecer totalmente do fantasma do filme de 2003, produzido pela Fox. Primeiramente temos o cenário, extremamente escuro, imundo e urbano, exatamente como Hell's Kitchen deve ser. A atmosfera sombria e violenta, certamente pegando elementos das passagens de Frank Miller e da parceria de Brian Michael Bendis e Alex Maleev pelos quadrinhos do Homem Sem Medo, torna a cidade amedrontadora. Raros são os momentos que você deixa de estar tenso enquanto assiste. Acredito que apenas a série Gotham tenha superado a adaptação de cenário de Demolidor.
Embora a série da D.C. comics tenha esta leve vantagem de qualidade neste quesito, as atuações, roteiro e direção são totalmente atropeladas pela série produzida pela Netflix. Charlie Cox (Matthew Murdock) me surpreendeu positivamente, é a primeira vez que vejo um trabalho do ator e que surpresa agradável, Deborah Ann Woll (Karen Page) também não deixou o nível descer, acompanhada por Vondie Curtis-Hall (Ben Urich) e Elden Henson (Foggy Nelson), nosso velho amigo de Efeito Borboleta. Até mesmo Skylar Gaertner (Matt Murdock criança), ator mirim, os quais dificilmente me agradam, estava excelente.
Apesar dos bons moços estarem impecáveis, o grande astro da série é Vincent D'Onofrio. Brilhante em Full Metal Jacket e se renovando agora no atual Jurassic World, Vincent trouxe às telas um Rei do Crime mais incrível do que nos meus mais belos sonhos, ou pesadelos. Seus lapsos raivosos, seus momentos de calma de reflexão sobre seu Reino e o principal: a transição abrupta entre os dois. Estes elementos foram transpostos de maneira magistral, em minha humilde opinião. O Kingpin rouba, com o perdão do trocadilho, a cena na série. Pode parecer estranho falar tão bem de uma série que o vilão acaba tendo mais destaque que o herói, mas acredite, este desbalanço ocorre devido à genial atuação de D'Onofrio e não pela inabilidade artística de Charlie Cox, ambos formam uma dupla incrível, em termos profissionais e dentro da própria construção de personagens no enredo
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Combinando as
grandes atuações com roteiros incríveis, o resultado não poderia
ser outro. Uma série com nota 5,0 de 5,0. A construção mútua do
Rei do Crime e seu antagonista, o Demolidor, é feita brilhantemente.
Chamo a atenção para a minha parte preferida, no episódio onze. O
diálogo entre Matthew e o Padre Lantom (Peter McRobbie) é o momento
de ouro dos roteiristas Steven S. DeKnight e Douglas Petrie,
responsáveis pelo episódio, juntamente com a direção de Nick
Gomez. Um grande passo para a construção do símbolo que os que
desviam do caminho dos justos devem temer.
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Tendo mencionado as nuances
técnicas da série, o roteiro e seus atores, o que sobra? Os
quadrinhos, claro! Mas como pretendo aqui falar mais sobre a série,
me reservarei a pontuar algumas referências que notei e que achei
importante destacar ao assistir. O mais óbvio, é a influência das
obras de Frank Miller, o qual não poderia ficar de fora de qualquer
adaptação do Demolidor. Em outras passagens vemos referências mais
específicas, Karen Page em determinado momento da série, devido a
acontecimentos que não citarei para evitar spoilers,
acaba agarrando-se ao abuso de bebidas alcoólicas. Será que temos
aqui um encaminhamento para a Queda de Murdock? Por fim, em um
diálogo com Ben Urich, Matt, ainda com sua clássica roupa preta de
ninja, faz alguns questionamentos sobre o tráfico de heroína na
cidade. Nos papelotes há desenhado o símbolo do Serpente de Aço, o
qual é mencionado por Urich. Na época que a série saiu, isto era o
mais próximo de uma possível confirmação da produção de uma
série do Punho de Ferro, por um curto período houveram oscilações
nas informações, o que deixava os fãs apreensivos.
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Atualmente as séries do Punho de Ferro, Luke Cage e dos Defensores aparecem no painel de busca da Netflix, o que indica que o futuro nos reserva coisas interessantes.