A
Garota Dinamarquesa é um filme que te deixa no chão e faz sair se
arrastando do cinema. A obra é incrível, poética, sentimental,
intimista e muito, mas muito triste. O enredo se divide entre longas
partes onde a melancolia toma conta da atmosfera e alguns poucos
picos de momentos felizes, os quais fazem sorrisos sinceros brotarem
de nossos rostos. O elemento chave define o quão imersivo é o
filme para cada um que assiste é empatia.
Tom
Hopper, ganhador do Oscar em 2011 de melhor direção em O Discurso
do Rei, encara agora outro desafio, também de drama histórico.
Representar a primeira cirurgia de adequação de sexo da história e
todo o contexto psicológico que envolve este processo não é tarefa
fácil. Hopper escolheu, ao meu ver, um caminho mais seguro, mas que
mesmo assim gerou suas controvérsias, até mesmo nas esferas social
e política, extrapolando o universo artístico cinematográfico de
um modo curioso e concomitantemente triste. Em minha cidade, por
exemplo, o filme precisou ser requerido pelos espectadores, pois os
cinemas recusaram-se a colocá-lo em cartaz. Um filme indicado a
quatro Oscars fora de cartaz e o motivo para isto é óbvio. Mesmo a
própria comunidade trans ficou dividida em relação ao filme.
Houveram opiniões positivas, mas também há quem diga que o fato de
um ator cisgênero interpretar uma pessoa transsexual não fornece
representatividade suficiente para o público trans. Não me
aprofundarei muito nisto, mas creio que a menção seja válida.
Voltando
ao filme, a obra romantiza muito o processo de descobrimento de Lili
Elbe (Eddie Redmayne), principalmente fora do contexto interno de seu
relacionamento com Gerda Wegener (Alicia Vikander) e sua amizade
antiga com Hans Axgil (Matthias Schoenaerts). Apesar de fazer a
separação de gênero e sexualidade, erro comum quando se fala a
respeito de pessoas transsexuais, o filme trata pouco sobre
transfobia e transforma tudo em algo belo demais. Fora uma única
cena de agressão motivada por isto e dos vários diagnósticos
médicos errôneos, não são apresentadas outras formas de
discriminação. Não que seja divertido ou qualquer coisa do tipo
ver o sofrimento trans nu e cru, mas considerando o contexto do
filme, que se passa na década de 20, seria mais crível mencionar as
diversas dificuldades enfrentadas por pessoas trans, além do drama
relacional e psicológico que foi apresentado. Para mim este foi o
único ponto negativo do filme, pena que ele reaparece em várias
outras situações.
O
filme concorre agora aos Oscars de melhor ator, com Eddie Redmayne,
de melhor atriz coadjuvante, com Alicia Vikander, de melhor figurino,
com Paco Delgado e de melhor direção de arte. Certamente o filme
merece estas indicações. As atuações estavam excelentes, Eddie e
Alicia trabalham com uma química incrível, os olhares, as
expressões, os toques, cada ação conjunta te convencem de que os
dois possuem algo especial e que confiam um no outro. O figurino e a
arte nem sequer precisam ser mencionados, basta ver e sentir para
perceber o quão belos são. O filme é bom, mas poderia ser mais
corajoso em alguns pontos, o que garante uma nota 4,0 de 5,0. Uma
obra que te faz refletir que merece ser assistida, de preferência
com um lencinho de papel ao lado.