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domingo, 21 de fevereiro de 2016

A Garota Dinamarquesa!

A Garota Dinamarquesa é um filme que te deixa no chão e faz sair se arrastando do cinema. A obra é incrível, poética, sentimental, intimista e muito, mas muito triste. O enredo se divide entre longas partes onde a melancolia toma conta da atmosfera e alguns poucos picos de momentos felizes, os quais fazem sorrisos sinceros brotarem de nossos rostos. O elemento chave define o quão imersivo é o filme para cada um que assiste é empatia.

Tom Hopper, ganhador do Oscar em 2011 de melhor direção em O Discurso do Rei, encara agora outro desafio, também de drama histórico. Representar a primeira cirurgia de adequação de sexo da história e todo o contexto psicológico que envolve este processo não é tarefa fácil. Hopper escolheu, ao meu ver, um caminho mais seguro, mas que mesmo assim gerou suas controvérsias, até mesmo nas esferas social e política, extrapolando o universo artístico cinematográfico de um modo curioso e concomitantemente triste. Em minha cidade, por exemplo, o filme precisou ser requerido pelos espectadores, pois os cinemas recusaram-se a colocá-lo em cartaz. Um filme indicado a quatro Oscars fora de cartaz e o motivo para isto é óbvio. Mesmo a própria comunidade trans ficou dividida em relação ao filme. Houveram opiniões positivas, mas também há quem diga que o fato de um ator cisgênero interpretar uma pessoa transsexual não fornece representatividade suficiente para o público trans. Não me aprofundarei muito nisto, mas creio que a menção seja válida.

Voltando ao filme, a obra romantiza muito o processo de descobrimento de Lili Elbe (Eddie Redmayne), principalmente fora do contexto interno de seu relacionamento com Gerda Wegener (Alicia Vikander) e sua amizade antiga com Hans Axgil (Matthias Schoenaerts). Apesar de fazer a separação de gênero e sexualidade, erro comum quando se fala a respeito de pessoas transsexuais, o filme trata pouco sobre transfobia e transforma tudo em algo belo demais. Fora uma única cena de agressão motivada por isto e dos vários diagnósticos médicos errôneos, não são apresentadas outras formas de discriminação. Não que seja divertido ou qualquer coisa do tipo ver o sofrimento trans nu e cru, mas considerando o contexto do filme, que se passa na década de 20, seria mais crível mencionar as diversas dificuldades enfrentadas por pessoas trans, além do drama relacional e psicológico que foi apresentado. Para mim este foi o único ponto negativo do filme, pena que ele reaparece em várias outras situações.

O filme concorre agora aos Oscars de melhor ator, com Eddie Redmayne, de melhor atriz coadjuvante, com Alicia Vikander, de melhor figurino, com Paco Delgado e de melhor direção de arte. Certamente o filme merece estas indicações. As atuações estavam excelentes, Eddie e Alicia trabalham com uma química incrível, os olhares, as expressões, os toques, cada ação conjunta te convencem de que os dois possuem algo especial e que confiam um no outro. O figurino e a arte nem sequer precisam ser mencionados, basta ver e sentir para perceber o quão belos são. O filme é bom, mas poderia ser mais corajoso em alguns pontos, o que garante uma nota 4,0 de 5,0. Uma obra que te faz refletir que merece ser assistida, de preferência com um lencinho de papel ao lado.