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sábado, 7 de maio de 2016

Nise - O Coração da Loucura.

Uma incrível surpresa. Nise, o Coração da Loucura é um dos filmes mais belos e edificantes que já vi. Roberto Berliner, de a Farra do Circo (2014) e Herbert de Perto (2009), com um roteiro escrito a várias mãos, nos apresenta algo lindo, poético e extremamente intimista. Embora a atmosfera do filme seja desalentadora, há uma brisa de esperança que traz uma certa felicidade ao assistir o longa.

O filme flerta com o gênero de documentário, mas tem sua liberdade enquanto dramatização. O enredo se resume à história de Nise da Silveira, (Glória Pires) psiquiatra afastada do hospital psiquiátrico onde trabalhava por ter em posse livros marxistas. Nise volta ao trabalho enfrentando, além do machismo incrustado na sociedade brasileira da década de 40 e a tendência anticomunista do período, seus colegas fortemente resistentes às propostas da psiquiatra em relação ao tratamento dos internos. Em um contexto onde os métodos de tratamento de pessoas com transtornos mentais focavam em abordagens extremamente violentas, fazendo uso de eletrochoques, lobotomias e isolamento social fomentadas pela ignorância e falta de empatia, Nise traz uma revolução ao propor lidar com essas pessoas de modo mais humanitário, ao melhor estilo Patch Adams, talvez um pouco menos colorido do que o filme estrelado por Robin Williams, de 1998, representa.

Por meio das belas artes, a doutora constrói um ambiente muito menos hostil aos internos em tratamento. Aqui começa uma escalada intensa, belíssima e cheia de altos e baixos. O elenco de apoio de Glória Pires atua de forma cativante neste momento de transformação, suportados pela musicalidade de Leonardo Rocha, também roteirista do filme. Roberto Berliner e Leonardo Rocha combinam incríveis tomadas com uma trilha sonora mágica, apresentando uma forma de poesia que só a sétima arte pode proporcionar.

Embora poético e otimista em alguns momentos, é um filme que te deixa fragilizado. Passa uma sensação de impotência e em alguns momentos proporciona grande raiva devido os surtos de agressividade gratuita, de doutores e funcionários do hospital psiquiátrico, decorrentes da falta de conhecimento e interesse em relação às formas de lidar de maneira mais produtivas e menos invasivas com os pacientes. Em contrapartida, as evoluções de alguns personagens, antes apáticos, são apresentadas de maneira tão lúdica, a passos inocentes, mas sinceros, que torna-se impossível não soltar um sorriso bobo ao assistir o filme. Nise, o Coração da Loucura é uma grande obra do cinema brasileiro, que provavelmente será subestimada e logo será esquecida, não por falta de qualidade ou qualquer ponto negativo, mas sim por possuir pouco espaço no cenário nacional mainstream e por acabar sendo ofuscada pelos grandes blockbusters internacionais. Pode ser uma perspectiva pessimista, mas infelizmente embasada em outras experiências quando se trata do cinema nacional. Espero estar errado.