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sábado, 7 de maio de 2016

Capitão América - Guerra Civil.

Capitão América: Guerra Civil é o melhor filme da Marvel? Vi diversas pessoas se questionando isso antes de ver o filme. Ao lembrar de uma reação parecida de grande parte dos fãs quando Batman vs Superman estreou, imaginei ser uma loucura o terceiro filme do Capitão América ter esta importância atribuída, pensei que a empolgação que deturpou o senso crítico de tantos fãs da D.C. Comics havia atingido os fãs da Marvel. Fui surpreendido, positivamente.

Guerra Civil não é o melhor filme da Marvel. Os Vingadores (2012) e Guardiões da Galáxia (2014) superam em vários pontos esta nova produção. Entretanto o filme é tudo o que os fãs da Marvel esperavam. É um mais do mesmo de algo excelente. Isso é bom? Sinceramente a resposta para essa pergunta é mais difícil do que parece, mas o filme é sim muito divertido. A qualidade das cenas de ação dos U.M.C. vem crescendo exponencialmente, parece que estamos vendo quadrinhos se movendo na tela dos cinemas e isto é certamente uma qualidade da qual a Marvel merece ser creditada, tal como os irmãos Russo, diretores do filme.

Arrisco dizer que o filme supera em diversos momentos as HQ’s. Primeiramente, os quadrinhos são muito mais desorganizados que o filme, diversas histórias que não possuem conexão direta, ou ao menos não possuem ligação coerente com a trama central, acontecem paralelamente, o que torna a leitura extremamente cansativa e confusa. No filme, o número de heróis é obviamente muito menor, mas ainda grande para uma única produção. Cada personagem possui tempo de tela suficiente para ser desenvolvido e para ser encaixado de forma aceitável na trama. Outro ponto positivo do filme em relação aos quadrinhos é o equilíbrio da história. Nos quadrinhos é quase impossível ficar do lado do Homem de Ferro, enquanto as atitudes do Capitão América fazem total sentido, se compararmos com as ações quase fascistas de Tony Stark. No longa, o super registro dos heróis ainda é o foco central da fissura dos Vingadores, entretanto existem subtramas que tornam as ações do Homem de Ferro muito mais aceitáveis, abrindo, inclusive, precedentes para interpretações diferentes sobre as ações do Capitão Steve Rogers, tornando-as mais passionais do que nas HQ’s. Existe aqui uma grande apelação para o lado sentimental que envolve a amizade destes dois personagens, além das divergências políticas, a cisão ocorre em âmbito íntimo, o que coloca um peso muito maior nos conflitos. A batalha final, o único momento em que a trilha sonora torna-se notável, mesmo que pouco, é bastante intensa, cada golpe dado, principalmente pelo Homem de Ferro, que há um bom tempo demonstra um olhar amargurado de alguém que possui um fardo psicológico muito pesado, é carregado de dor. É possível ouvir os pedaços de Tony Stark se partindo (desculpem o exagero, me emocionei de verdade!).


Deixando um pouco de lado os ícones principais do filme, vamos falar do que realmente interessa. O melhor Homem Aranha e Peter Parker de todos finalmente veio até nós. Obrigado por isto, Marvel! Tom Holland incorporou muito bem o amigo da vizinhança e roubou a cena em uma das sequências de lutas mais épicas do U.M.C, tanto em termos de ação quanto comicidade. Os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely souberam transpor bem a personalidade do Aranha, as piadas estão excelentes e são muito naturais, encaixam muito bem no Homem Aranha construído para este universo, aliás, todas as piadas do filme são muito bem colocadas, diferentemente de Vingadores – A Era de Ultron (2015), que recebeu duras críticas devido ao humor forçado que apresentou.
É um pouco difícil falar de um filme com tantos personagens, mas algumas menções valem a pena, como a parceria do Gavião Arqueiro e Homem Formiga, muito esperada, os movimentos impecáveis da Viúva Negra, obrigado por isto, coreógrafos e o espetacular Pantera Negra, muito bem introduzido. Cabe ainda falar do Barão Zemo, vilão do filme, que embora tenha arquitetado um bom plano para separar os heróis, não agradou diversos fãs. Pessoalmente não tenho conhecimento suficiente para falar de Zemo nos quadrinhos, mas os filmes da Marvel apresentam dificuldade em construir um vilão que supere uma marca mediana, e isso se repete aqui. Loki ainda é o vilão mais carismático do U.M.C., entretanto não considero isto uma grande falha, Zemo é apenas uma faísca para o evento principal que é o embate das duas equipes. O filme continua excelente, apesar disto, e dizem as más línguas, que Capitão América: Guerra Civil é tudo o que Batman vs Superman quis ser. Aqui é #TeamCap, em todos os sentidos, e que venha o filme solo do Homem Aranha, que já possui título e logo oficial!


Me ajudem, Vingadores, é muito filme! Salvem minha carteira!

... ou não...

Nise - O Coração da Loucura.

Uma incrível surpresa. Nise, o Coração da Loucura é um dos filmes mais belos e edificantes que já vi. Roberto Berliner, de a Farra do Circo (2014) e Herbert de Perto (2009), com um roteiro escrito a várias mãos, nos apresenta algo lindo, poético e extremamente intimista. Embora a atmosfera do filme seja desalentadora, há uma brisa de esperança que traz uma certa felicidade ao assistir o longa.

O filme flerta com o gênero de documentário, mas tem sua liberdade enquanto dramatização. O enredo se resume à história de Nise da Silveira, (Glória Pires) psiquiatra afastada do hospital psiquiátrico onde trabalhava por ter em posse livros marxistas. Nise volta ao trabalho enfrentando, além do machismo incrustado na sociedade brasileira da década de 40 e a tendência anticomunista do período, seus colegas fortemente resistentes às propostas da psiquiatra em relação ao tratamento dos internos. Em um contexto onde os métodos de tratamento de pessoas com transtornos mentais focavam em abordagens extremamente violentas, fazendo uso de eletrochoques, lobotomias e isolamento social fomentadas pela ignorância e falta de empatia, Nise traz uma revolução ao propor lidar com essas pessoas de modo mais humanitário, ao melhor estilo Patch Adams, talvez um pouco menos colorido do que o filme estrelado por Robin Williams, de 1998, representa.

Por meio das belas artes, a doutora constrói um ambiente muito menos hostil aos internos em tratamento. Aqui começa uma escalada intensa, belíssima e cheia de altos e baixos. O elenco de apoio de Glória Pires atua de forma cativante neste momento de transformação, suportados pela musicalidade de Leonardo Rocha, também roteirista do filme. Roberto Berliner e Leonardo Rocha combinam incríveis tomadas com uma trilha sonora mágica, apresentando uma forma de poesia que só a sétima arte pode proporcionar.

Embora poético e otimista em alguns momentos, é um filme que te deixa fragilizado. Passa uma sensação de impotência e em alguns momentos proporciona grande raiva devido os surtos de agressividade gratuita, de doutores e funcionários do hospital psiquiátrico, decorrentes da falta de conhecimento e interesse em relação às formas de lidar de maneira mais produtivas e menos invasivas com os pacientes. Em contrapartida, as evoluções de alguns personagens, antes apáticos, são apresentadas de maneira tão lúdica, a passos inocentes, mas sinceros, que torna-se impossível não soltar um sorriso bobo ao assistir o filme. Nise, o Coração da Loucura é uma grande obra do cinema brasileiro, que provavelmente será subestimada e logo será esquecida, não por falta de qualidade ou qualquer ponto negativo, mas sim por possuir pouco espaço no cenário nacional mainstream e por acabar sendo ofuscada pelos grandes blockbusters internacionais. Pode ser uma perspectiva pessimista, mas infelizmente embasada em outras experiências quando se trata do cinema nacional. Espero estar errado.