A Bruxa já ganhou
destaque antes mesmo de chegar aos cinemas. Com declarações de
ícones populares dentro do universo do entretenimento do horror,
dentre eles um dos maiores escritores de terror Stephen King, o filme
criou uma grande expectativa para os fãs deste gênero, e até mesmo
para os não tão fãs assim, como eu.
King declarou-se
assustado com a atmosfera aterrorizante do filme. De fato o filme te
causa uma sensação opressiva de modo bem eficiente, mas eu fiquei
ainda mais assustado ao ver como um filme tão promissor, com um
início e um meio tão interessantes, pode ser arruinado com um final
tremendamente decepcionante. Toda a justificativa para o
desenvolvimento extra e intra familiar do elenco principal do filme é
jogado pelo ralo com um final muito repentino e, ao meu ver, pouco
condizente com a proposta até então trabalhada no filme.
Robert Eggers,
apesar das ressalvas, fez um belo trabalho como diretor novato em uma
grande produção. Este não é um filme como os outros recentes de
terror. Muitas pessoas decepcionaram-se por esperar uma obra com
muitos sustos e elementos gore, mas o que nos foi apresentado
foi um universo de grande tensão e drama. A total submissão da
família à religião contribui muito para o clima agoniante que se
estende durante todo o filme, mas isto se quebra como cristal quando
o final nos é apresentado, se o filme terminasse alguns minutos
antes, talvez o estrago não fosse tão grande.
Embora com este fim
incrivelmente incoerente com o restante do filme, o elenco mostrou-se
surpreendentemente adequado. Com exceção de Ralph Ineson (William),
que fez pequenas participações na franquia de Harry Potter (2001 -
2011), no filme Guardiões da Galáxia (2014) e, com mais destaque,
na série Game of Thrones (2011 – ainda em lançamento) e de Kate
Dickie, que também participou de Prometheus (2012), o restante dos
atores principais, dentro do núcleo familiar, não possuíam
experiências em grandes produções cinematográficas, mas isto não
foi nenhum entrave para suas grandes contribuições para o filme.
Anya Taylor-Joy (Thomasin), Harvey Scrimshaw (Caleb) e mesmo os
gêmeos Ellie Grainger (Mercy) e Lucas Dawson (Jonas) não destoaram
em nenhum momento do que o filme pretendia apresentar.
O filme parece
tentar construir toda uma trajetória de decadência da família, em
termos religiosos. O início do fim com a heresia e o orgulho,
seguidos pela luxúria, pela mentira e pela perda da própria fé.
Essa trilha de elementos não é nada inovadora, mas o modo como se
trabalha com ela é certamente notável, principalmente em conjunto
com a impactante e muito bem encaixada trilha sonora de Mark Korven e
a belíssima fotografia de Jarin Blaschke. Tendo um final que puxa, e
bastante, para baixo a média do filme, uma nota 3,5 de 5,0 parece
bastante apropriada. O filme poderia ter facilmente um 4,0 ou mesmo
4,5 se conectasse melhor as duas primeiras partes com a parte final.
Parece que não é desta vez que teremos um neoclássico como muitos
previram.