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sábado, 7 de maio de 2016

Capitão América - Guerra Civil.

Capitão América: Guerra Civil é o melhor filme da Marvel? Vi diversas pessoas se questionando isso antes de ver o filme. Ao lembrar de uma reação parecida de grande parte dos fãs quando Batman vs Superman estreou, imaginei ser uma loucura o terceiro filme do Capitão América ter esta importância atribuída, pensei que a empolgação que deturpou o senso crítico de tantos fãs da D.C. Comics havia atingido os fãs da Marvel. Fui surpreendido, positivamente.

Guerra Civil não é o melhor filme da Marvel. Os Vingadores (2012) e Guardiões da Galáxia (2014) superam em vários pontos esta nova produção. Entretanto o filme é tudo o que os fãs da Marvel esperavam. É um mais do mesmo de algo excelente. Isso é bom? Sinceramente a resposta para essa pergunta é mais difícil do que parece, mas o filme é sim muito divertido. A qualidade das cenas de ação dos U.M.C. vem crescendo exponencialmente, parece que estamos vendo quadrinhos se movendo na tela dos cinemas e isto é certamente uma qualidade da qual a Marvel merece ser creditada, tal como os irmãos Russo, diretores do filme.

Arrisco dizer que o filme supera em diversos momentos as HQ’s. Primeiramente, os quadrinhos são muito mais desorganizados que o filme, diversas histórias que não possuem conexão direta, ou ao menos não possuem ligação coerente com a trama central, acontecem paralelamente, o que torna a leitura extremamente cansativa e confusa. No filme, o número de heróis é obviamente muito menor, mas ainda grande para uma única produção. Cada personagem possui tempo de tela suficiente para ser desenvolvido e para ser encaixado de forma aceitável na trama. Outro ponto positivo do filme em relação aos quadrinhos é o equilíbrio da história. Nos quadrinhos é quase impossível ficar do lado do Homem de Ferro, enquanto as atitudes do Capitão América fazem total sentido, se compararmos com as ações quase fascistas de Tony Stark. No longa, o super registro dos heróis ainda é o foco central da fissura dos Vingadores, entretanto existem subtramas que tornam as ações do Homem de Ferro muito mais aceitáveis, abrindo, inclusive, precedentes para interpretações diferentes sobre as ações do Capitão Steve Rogers, tornando-as mais passionais do que nas HQ’s. Existe aqui uma grande apelação para o lado sentimental que envolve a amizade destes dois personagens, além das divergências políticas, a cisão ocorre em âmbito íntimo, o que coloca um peso muito maior nos conflitos. A batalha final, o único momento em que a trilha sonora torna-se notável, mesmo que pouco, é bastante intensa, cada golpe dado, principalmente pelo Homem de Ferro, que há um bom tempo demonstra um olhar amargurado de alguém que possui um fardo psicológico muito pesado, é carregado de dor. É possível ouvir os pedaços de Tony Stark se partindo (desculpem o exagero, me emocionei de verdade!).


Deixando um pouco de lado os ícones principais do filme, vamos falar do que realmente interessa. O melhor Homem Aranha e Peter Parker de todos finalmente veio até nós. Obrigado por isto, Marvel! Tom Holland incorporou muito bem o amigo da vizinhança e roubou a cena em uma das sequências de lutas mais épicas do U.M.C, tanto em termos de ação quanto comicidade. Os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely souberam transpor bem a personalidade do Aranha, as piadas estão excelentes e são muito naturais, encaixam muito bem no Homem Aranha construído para este universo, aliás, todas as piadas do filme são muito bem colocadas, diferentemente de Vingadores – A Era de Ultron (2015), que recebeu duras críticas devido ao humor forçado que apresentou.
É um pouco difícil falar de um filme com tantos personagens, mas algumas menções valem a pena, como a parceria do Gavião Arqueiro e Homem Formiga, muito esperada, os movimentos impecáveis da Viúva Negra, obrigado por isto, coreógrafos e o espetacular Pantera Negra, muito bem introduzido. Cabe ainda falar do Barão Zemo, vilão do filme, que embora tenha arquitetado um bom plano para separar os heróis, não agradou diversos fãs. Pessoalmente não tenho conhecimento suficiente para falar de Zemo nos quadrinhos, mas os filmes da Marvel apresentam dificuldade em construir um vilão que supere uma marca mediana, e isso se repete aqui. Loki ainda é o vilão mais carismático do U.M.C., entretanto não considero isto uma grande falha, Zemo é apenas uma faísca para o evento principal que é o embate das duas equipes. O filme continua excelente, apesar disto, e dizem as más línguas, que Capitão América: Guerra Civil é tudo o que Batman vs Superman quis ser. Aqui é #TeamCap, em todos os sentidos, e que venha o filme solo do Homem Aranha, que já possui título e logo oficial!


Me ajudem, Vingadores, é muito filme! Salvem minha carteira!

... ou não...

Nise - O Coração da Loucura.

Uma incrível surpresa. Nise, o Coração da Loucura é um dos filmes mais belos e edificantes que já vi. Roberto Berliner, de a Farra do Circo (2014) e Herbert de Perto (2009), com um roteiro escrito a várias mãos, nos apresenta algo lindo, poético e extremamente intimista. Embora a atmosfera do filme seja desalentadora, há uma brisa de esperança que traz uma certa felicidade ao assistir o longa.

O filme flerta com o gênero de documentário, mas tem sua liberdade enquanto dramatização. O enredo se resume à história de Nise da Silveira, (Glória Pires) psiquiatra afastada do hospital psiquiátrico onde trabalhava por ter em posse livros marxistas. Nise volta ao trabalho enfrentando, além do machismo incrustado na sociedade brasileira da década de 40 e a tendência anticomunista do período, seus colegas fortemente resistentes às propostas da psiquiatra em relação ao tratamento dos internos. Em um contexto onde os métodos de tratamento de pessoas com transtornos mentais focavam em abordagens extremamente violentas, fazendo uso de eletrochoques, lobotomias e isolamento social fomentadas pela ignorância e falta de empatia, Nise traz uma revolução ao propor lidar com essas pessoas de modo mais humanitário, ao melhor estilo Patch Adams, talvez um pouco menos colorido do que o filme estrelado por Robin Williams, de 1998, representa.

Por meio das belas artes, a doutora constrói um ambiente muito menos hostil aos internos em tratamento. Aqui começa uma escalada intensa, belíssima e cheia de altos e baixos. O elenco de apoio de Glória Pires atua de forma cativante neste momento de transformação, suportados pela musicalidade de Leonardo Rocha, também roteirista do filme. Roberto Berliner e Leonardo Rocha combinam incríveis tomadas com uma trilha sonora mágica, apresentando uma forma de poesia que só a sétima arte pode proporcionar.

Embora poético e otimista em alguns momentos, é um filme que te deixa fragilizado. Passa uma sensação de impotência e em alguns momentos proporciona grande raiva devido os surtos de agressividade gratuita, de doutores e funcionários do hospital psiquiátrico, decorrentes da falta de conhecimento e interesse em relação às formas de lidar de maneira mais produtivas e menos invasivas com os pacientes. Em contrapartida, as evoluções de alguns personagens, antes apáticos, são apresentadas de maneira tão lúdica, a passos inocentes, mas sinceros, que torna-se impossível não soltar um sorriso bobo ao assistir o filme. Nise, o Coração da Loucura é uma grande obra do cinema brasileiro, que provavelmente será subestimada e logo será esquecida, não por falta de qualidade ou qualquer ponto negativo, mas sim por possuir pouco espaço no cenário nacional mainstream e por acabar sendo ofuscada pelos grandes blockbusters internacionais. Pode ser uma perspectiva pessimista, mas infelizmente embasada em outras experiências quando se trata do cinema nacional. Espero estar errado.            

terça-feira, 29 de março de 2016

Batman vs Superman - A Origem da Justiça.

Um dos filmes mais aguardados de 2016 e, por que não, um dos mais aguardados do gênero de super-heróis, finalmente chegou. A questão agora é, será que o filme é tão bom quanto falam? Ou mesmo tão ruim quanto as críticas apontam? Dessa vez subirei no muro, Batman vs Superman é um filme mediano, mas que tinha tudo para ser grande.

Zack Snyder mais uma vez caiu na maldição de dirigir filmes mais ou menos, que possuem alguns bons picos de grandiosidade. Vamos aos fatos, o filme produziu grande expectativa no público, o que é quase sempre uma armadilha perigosa, na qual a obra caiu e feio. Os diversos trailers lançados tiraram grande parte da surpresa de se assistir o filme no cinema, o próprio vilão do filme, Doomsday, foi mostrado desnecessariamente antes do lançamento. Algumas cenas já reveladas, demoraram mais da metade do filme para aparecerem, o que eliminava quase por completo a sensação de surpresa ao assistir. Isso sem mencionar os diversos furos no roteiro, que nem mesmo as atuações, um dos pontos positivos do conjunto, puderam segurar.

O filme nos apresenta um Batman (Ben Affleck) surpreendentemente bom. Ainda não é o melhor Batman dos cinemas, ao meu ver, como muitos fãs colocaram, mas certamente é um Homem Morcego de respeito. O ator encarnou muito bem o personagem amargurado, com um peso enorme nas costas. Esse Batman é cansado e atormentado por eventos do passado, referência direta aos quadrinhos de Frank Miller. A Mulher Maravilha (Gal Gadot) também merece reconhecimento, embora tenha sido trabalhada um pouco nas coxas, a personagem ganhou um rosto, não consigo, ao menos por enquanto, imaginar outra atriz no papel. Mesmo com essas boas atuações, eles não conseguem amparar o Superman (Henry Cavill), que não possui carisma algum. Pode ser implicância, mas você vibra quando o personagem leva porrada e não é porque o Batman é incrível ou algo assim, mas sim porque o Super não faz nada que te convença que ele merece o contrário. Há algo de irritante neste Superman e eu não sei o que é. Talvez seja meu lado fanboy gritando mais alto pelo Batman, talvez não seja.

O curioso deste filme é que ele conseguiu superar as apreensões dos fãs, principalmente sobre os personagens de Ben Affleck e Jesse Eisenber, que interpretou incrivelmente Lex Luthor, mas errou feio ao atender às expectativas positivas, sobre o confronto entre os heróis, o vilão Apocalipse e principalmente sobre as motivações de cada personagem. Os acontecimentos são meio repentinos demais, com pouca explicação, confusos e o Batman literalmente muda de ideia em um minuto. Em um momento ele aponta uma lança de Kriptonita em direção ao peito do Homem de Aço e no seguinte o chama de amigo ao participar do salvamento de Martha Kent (Diane Lane), e toda essa reviravolta de sentimentos acontece só porque as mães dos dois possuem o mesmo nome. Mas que forçada de barra, ein senhor Zack Snyder? O senhor passa quase uma hora de filme trabalhando que o Batman considera o Super um risco e que o embate entre os dois é totalmente justificável por causa deste viés, o que faz muito sentido, era um bom caminho, mas depois joga isso tudo pelo ralo sem nem dar uma explicação sensata. Os roteiristas David S. Goyer e Chris Terrio deslizaram feio aqui. Zack Snyder só não tem preguiça de enfiar slow motion em tudo, parece que não conhece outra técnica de intensificação de cena dramática que não seja esta. Sem contar os excessos no uso de CGI, que tiram totalmente a imersão. Estes erros foram cruciais para tirar toda a possível grandiosidade de Batman vs Superman.

Embora recheado de defeitos, o filme possui seus pontos positivos. O diretor costuma respeitar muito os quadrinhos, às vezes até demais, como em Watchmen (2009) e 300 (2007), e não foi diferente desta vez. Alguns chamariam de homenagem, mas eu acho que o uso quase idêntico a cenas dos quadrinhos é um pouco de falta de coragem de inovar da parte de Snyder, entretanto, o forte do diretor aqui não foi seguir os quadrinhos à risca, ou fazer “homenagens” idênticas aos quadros das comics mais famosas, mas sim apresentar uma boa releitura dos clássicos. Quadrinhos como o próprio Dark Knight Returns (1986) do já citado Frank Miller, e o clássico The Death of Superman (1993) são misturados e ressignificados de maneiras curiosas e criativas. A inversão dos papéis na cena final do funeral do Superman foi a minha preferida, uma bela apropriação e adaptação do Cavaleiro das Trevas. O filme não é horroroso como muitos dizem e nem chega perto de ser a maravilha como a outra extremidade de fãs aponta, seu grande vilão, provavelmente, deve ter sido o estúdio que quis forçar um início do universo cinematográfico da DC, um tiro que pode ter saído pela culatra. A trilha sonora do espetacular Hans Zimmer, em pareceria com o DJ Holandes Junkie XL ainda se salva um pouco, ela é bem envolvente, apesar exagerada em alguns momentos, é condizente com o ritmo da trama. Vale a pena gastar seu tempo, mesmo que o filme seja tão extenso, para ver Batman vs Superman, nem que seja para criticar, se bem que se eu não reclamaria caso fosse ressarcido em tempo e dinheiro.

segunda-feira, 14 de março de 2016

A Bruxa!

A Bruxa já ganhou destaque antes mesmo de chegar aos cinemas. Com declarações de ícones populares dentro do universo do entretenimento do horror, dentre eles um dos maiores escritores de terror Stephen King, o filme criou uma grande expectativa para os fãs deste gênero, e até mesmo para os não tão fãs assim, como eu.

King declarou-se assustado com a atmosfera aterrorizante do filme. De fato o filme te causa uma sensação opressiva de modo bem eficiente, mas eu fiquei ainda mais assustado ao ver como um filme tão promissor, com um início e um meio tão interessantes, pode ser arruinado com um final tremendamente decepcionante. Toda a justificativa para o desenvolvimento extra e intra familiar do elenco principal do filme é jogado pelo ralo com um final muito repentino e, ao meu ver, pouco condizente com a proposta até então trabalhada no filme.

Robert Eggers, apesar das ressalvas, fez um belo trabalho como diretor novato em uma grande produção. Este não é um filme como os outros recentes de terror. Muitas pessoas decepcionaram-se por esperar uma obra com muitos sustos e elementos gore, mas o que nos foi apresentado foi um universo de grande tensão e drama. A total submissão da família à religião contribui muito para o clima agoniante que se estende durante todo o filme, mas isto se quebra como cristal quando o final nos é apresentado, se o filme terminasse alguns minutos antes, talvez o estrago não fosse tão grande.

Embora com este fim incrivelmente incoerente com o restante do filme, o elenco mostrou-se surpreendentemente adequado. Com exceção de Ralph Ineson (William), que fez pequenas participações na franquia de Harry Potter (2001 - 2011), no filme Guardiões da Galáxia (2014) e, com mais destaque, na série Game of Thrones (2011 – ainda em lançamento) e de Kate Dickie, que também participou de Prometheus (2012), o restante dos atores principais, dentro do núcleo familiar, não possuíam experiências em grandes produções cinematográficas, mas isto não foi nenhum entrave para suas grandes contribuições para o filme. Anya Taylor-Joy (Thomasin), Harvey Scrimshaw (Caleb) e mesmo os gêmeos Ellie Grainger (Mercy) e Lucas Dawson (Jonas) não destoaram em nenhum momento do que o filme pretendia apresentar.

O filme parece tentar construir toda uma trajetória de decadência da família, em termos religiosos. O início do fim com a heresia e o orgulho, seguidos pela luxúria, pela mentira e pela perda da própria fé. Essa trilha de elementos não é nada inovadora, mas o modo como se trabalha com ela é certamente notável, principalmente em conjunto com a impactante e muito bem encaixada trilha sonora de Mark Korven e a belíssima fotografia de Jarin Blaschke. Tendo um final que puxa, e bastante, para baixo a média do filme, uma nota 3,5 de 5,0 parece bastante apropriada. O filme poderia ter facilmente um 4,0 ou mesmo 4,5 se conectasse melhor as duas primeiras partes com a parte final. Parece que não é desta vez que teremos um neoclássico como muitos previram. 

domingo, 21 de fevereiro de 2016

A Garota Dinamarquesa!

A Garota Dinamarquesa é um filme que te deixa no chão e faz sair se arrastando do cinema. A obra é incrível, poética, sentimental, intimista e muito, mas muito triste. O enredo se divide entre longas partes onde a melancolia toma conta da atmosfera e alguns poucos picos de momentos felizes, os quais fazem sorrisos sinceros brotarem de nossos rostos. O elemento chave define o quão imersivo é o filme para cada um que assiste é empatia.

Tom Hopper, ganhador do Oscar em 2011 de melhor direção em O Discurso do Rei, encara agora outro desafio, também de drama histórico. Representar a primeira cirurgia de adequação de sexo da história e todo o contexto psicológico que envolve este processo não é tarefa fácil. Hopper escolheu, ao meu ver, um caminho mais seguro, mas que mesmo assim gerou suas controvérsias, até mesmo nas esferas social e política, extrapolando o universo artístico cinematográfico de um modo curioso e concomitantemente triste. Em minha cidade, por exemplo, o filme precisou ser requerido pelos espectadores, pois os cinemas recusaram-se a colocá-lo em cartaz. Um filme indicado a quatro Oscars fora de cartaz e o motivo para isto é óbvio. Mesmo a própria comunidade trans ficou dividida em relação ao filme. Houveram opiniões positivas, mas também há quem diga que o fato de um ator cisgênero interpretar uma pessoa transsexual não fornece representatividade suficiente para o público trans. Não me aprofundarei muito nisto, mas creio que a menção seja válida.

Voltando ao filme, a obra romantiza muito o processo de descobrimento de Lili Elbe (Eddie Redmayne), principalmente fora do contexto interno de seu relacionamento com Gerda Wegener (Alicia Vikander) e sua amizade antiga com Hans Axgil (Matthias Schoenaerts). Apesar de fazer a separação de gênero e sexualidade, erro comum quando se fala a respeito de pessoas transsexuais, o filme trata pouco sobre transfobia e transforma tudo em algo belo demais. Fora uma única cena de agressão motivada por isto e dos vários diagnósticos médicos errôneos, não são apresentadas outras formas de discriminação. Não que seja divertido ou qualquer coisa do tipo ver o sofrimento trans nu e cru, mas considerando o contexto do filme, que se passa na década de 20, seria mais crível mencionar as diversas dificuldades enfrentadas por pessoas trans, além do drama relacional e psicológico que foi apresentado. Para mim este foi o único ponto negativo do filme, pena que ele reaparece em várias outras situações.

O filme concorre agora aos Oscars de melhor ator, com Eddie Redmayne, de melhor atriz coadjuvante, com Alicia Vikander, de melhor figurino, com Paco Delgado e de melhor direção de arte. Certamente o filme merece estas indicações. As atuações estavam excelentes, Eddie e Alicia trabalham com uma química incrível, os olhares, as expressões, os toques, cada ação conjunta te convencem de que os dois possuem algo especial e que confiam um no outro. O figurino e a arte nem sequer precisam ser mencionados, basta ver e sentir para perceber o quão belos são. O filme é bom, mas poderia ser mais corajoso em alguns pontos, o que garante uma nota 4,0 de 5,0. Uma obra que te faz refletir que merece ser assistida, de preferência com um lencinho de papel ao lado.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Deadpool!

Finalmente um dos filmes de super-herói mais aguardado foi lançado, mas espere um pouco, este não é um filme de super-herói. Deadpool é esperado desde o teaser vazado que tornou-se viral e já estreou quebrando algumas marcas históricas, dentre elas a de filme mais lucrativo nas mãos de um diretor de primeira viagem, superando os 260 milhões de dólares em bilheteria. Tim Miller tem muito a agradecer a Fox, ou seria a Fox que deveria agradecê-lo?

O filme já é uma pérola antes mesmo de ser assistido. Com uma equipe de marketing inspiradíssima, que soube o que fazer para atrair o público, o Mercenário Tagarela (Ryan Reynolds) já te conquista antes de sua estreia, é um filme que você vai assistir tendo a certeza de que irá gostar. Embora Ryan tenha tido papel de destaque na mídia por se esforçar bastante para o filme ocorrer, os roteiristas, Rhett Reese e Paul Wernick, são de fato os verdadeiros heróis da obra. Que roteiro de tirar o fôlego, e é de tanto rir! As piadas são excelentes e começam a todo vapor já nos créditos, Elas conversam com um público específico e é perceptível que isto tudo foi intencional e muito bem planejado. Em alguns momentos tive que parar para enxugar as lágrimas depois de algumas gargalhadas convulsionais.

Em diversos momentos as referências à cultura pop atuais, dos anos 90, de outros papéis mal sucedidos de Ryan Reynolds e até mesmo a outras produções fracassadas da Fox inseridas no contexto de quadrinhos são totalmente escrachadas e satirizadas. Em vários outros momentos o filme tira sarro de si mesmo e do próprio gênero. Deadpool sabe com qual público está falando e fala de uma maneira hilária e não tem medo de tocar, bem de leve, em algumas feridas. Se este filme não tem exatamente a essência do personagem, eu não consigo imaginar qual filme tem ou terá. Talvez apenas o filme O Máskara, de 1994, se iguale no quesito nonsense.

Há quem pense que este filme abriu novas portas ao já saturado gênero de super-herói no cinema ou mesmo que Deadpool criou um novo subgênero dentro desta parcela criativa cinematográfica. Não acredito nesta possibilidade, esta subcategoria de comédia teve seu pontapé inicial com Guardiões da Galáxia. Deadpool deu apenas um toque mais acentuado e ácido ao humor inaugurado no filme de 2014. Além do mais, esta pegada cômica da primeira obra só foi possível, porque os personagens eram pouco conhecidos, o que proporcionou uma vasta liberdade para criar. Já com Deadpool, não havia outra alternativa, o personagem exigia algo insanamente engraçado. Acho difícil o personagem abrir uma nova porta dentro do universo cinematográfico que adapta quadrinhos, até porque ele é um dos únicos que torna possível essa alternativa, ao menos com toda essa liberdade que presenciamos nos cinemas.

Deadpool vale cada centavo investido para ir ao cinema. O filme é incrível para quem conhece, para quem não conhece e mesmo para quem nem cogita a existência de um personagem tão maluco. Fui ao cinema com pessoas que nunca ouviram falar de Deadpool, nem ao menos sabiam seus poderes e com pessoas já mais familiarizadas com a excentricidade do mercenário mais irritante dos quadrinhos. Ambos adoraram. O filme merece nota 5,0 e nem um décimo a menos.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros!

Logo após Mad Max: Fury Road, Jurassic World, o Mundo dos Dinossauros, veio para gritar, ou rugir, ao público cinéfilo que as revisitas aos clássicos estão vindo com grande força. Com uma arrecadação de cerca de 1,6 bilhões de dólares no mundo, a obra deixou Os Vingadores, ultima grande bilheteria, para trás com uma leve, porém considerável, vantagem.

O enredo está longe de ser criativo. Novamente o parque é reaberto, mesmo com as grandes catástrofes anteriores, os irmãos Gray Mitchell (Ty Simpkins) e o pré adolescente Zach Mitchell (Nick Robinson), que é o personagem mais irritante do filme, são o fio condutor da história. Os dois se perdem e os dinossauros acabam se soltando e atacando os visitantes. Essas características resgatadas do filme de 1993 não seriam ruins se a obra procurasse acrescentar outras coisas ao roteiro. As únicas coisas novas são: a modificação genética, que possibilitou a criação de um dinossauro híbrido com característicasde várias espécies, uma ideia suicida, tendo em vista as experiências anteriores; o drama familiar dos pais dos garotos, que nem ao menos foi desenvolvido, totalmente descartável; a chefe de operações Claire Dearing (Bryce Dallas Howard), que não sabe de nada que acontece no próprio parque e, por fim, Owen Grady (Chris Pratt), uma espécie de Indiana Jones que tem uma relação curiosa em relação aos raptores militarizados.

Estes dois últimos elementos foram os mais interessantes. Jurassic World serviu de ponte para Chris Pratt alavancar sua carreira e se lançar ao estrelato. De fato sua atuação estava boa, engraçada e coerente, mas nada favorecida pelo resto da produção, nosso Star Lord não conseguiu segurar o filme sozinho. Já os raptores sendo usados como armas militares, apesar de pouco crível, não que isso importasse muito, afinal é um filme de dinossauros clonados com DNA de rãs, foram uma reformulação diferente e ganhou pontos pela inovação.

Embora a recepção do público tenha sido bastante positiva, o maior truque que fez a obra ganhar tanta notoriedade foi o hype e o boca boca. O primeiro erro, ao meu ver, foi tentar remexer na franquia de Jurassic Park. Mesmo com o segundo filme, O Mundo Perdido, de 1997, ter sido relativamente interessante, não havia necessidade de uma reformulação do universo de Jurassic Park. O contexto me faz pensar, sem muito esforço, que o filme não passou de um chamariz de público, proveniente do sucesso de Mad Max, lançado em maio do mesmo ano.

O filme não possui identidade própria, se firma totalmente nos feitos dos filmes anteriores e faz isso de maneira mediana, em alguns momentos replica cenas clássicas, uma apelação à memória afetiva de todos os fãs. Jurassic World faz uso da nostalgia, mas apenas dela e não preocupa-se em apresentar algo novo. Até mesmo a combinação de efeitos práticos e 3D do filme de Steven Spielberg mostrou-se infinitamente mais eficaz do que o CGI exagerado desta nova versão. Com uma nota 2,5 de 5,0, a obra não faz muita falta, servindo, no máximo, para uma ida ao cinema para ser vista apenas uma vez. Infelizmente, devido à exorbitante bilheteria, uma continuação já foi confirmada para junho de 2018. Pelo menos não tivemos uma repetição do fracasso artístico que foi o filme de 2001, que conseguiu ser pior que este.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Star Wars - O Despertar da Força!

Certamente daqui uns anos, quando a data de lançamento do episódio VII for lembrada em retrospectivas ou o que for, eu direi orgulhosamente que estive na pré-estreia. A energia e a empolgação de todos que dividiram a sessão de meia noite comigo e com os amigos que me acompanharam foi um extra no ingresso. Imagino que em várias outras sessões o mesmo aconteceu. Este filme realmente foi esperado e não só por quem viveu os outros episódios. Este filme é da geração atual e foi feito sob medida.

J.J. Abrams conseguiu balancear os anseios e gostos dos mais jovens que vieram sentir pela primeira vez como é ver Star Wars no cinema e dos mais velhos que esperavam rever todos os personagens que marcaram suas vidas. A escolha de elenco foi espetacular e o modo como os personagens foram apresentados uns aos outros e como suas relações desenvolveram-se foi sem igual.

O roteiro não chega a ser supercriativo, é basicamente uma recriação do Episódio IV, Uma Nova Esperança. Planos secretos da Aliança Rebelde são colocados em um droid que é enviado para achar determinado personagem, o decorrer do filme se desenrola, basicamente, na Primeira Ordem tentar resgatar tais planos. Nem mencionarei a base Starkiller que é destruída exatamente como uma certa Death Star. O Império realmente não aprendeu nada sobre construir armamentos de guerra colossais com pontos fracos absurdamente gigantes e desnecessários.

Entretanto, mesmo usando esta muleta, Star Wars VII respeita seu predecessor, se renova e entende o que o novo público fã de Star Wars compreende como heroico. O filme já começa a todo vapor com uma ótima relação entre Finn (John Boyega) e Poe Dameron (Oscar Isaac), o que deu brechas para ótimas teorias para o futuro dos dois personagens, posteriormente Rey (Daisy Ridley) começa sua jornada heroica com um passo importantíssimo: passar no teste de Bechdel. Temos Han Solo (Harrison Ford) e Leia Organa (Carrie Fisher) de volta e por fim um grande vilão em desenvolvimento, Kylo Ren (Adam Driver). Certamente vale destacar a maior surpresa, o droid BB-8, com um carisma incrível.

Percebi diversas críticas sobre a construção, enquanto detentora da Força, de Rey, em muitas falas vi a atribuição de Mary Sue para ela. Ao que aparenta, muitas pessoas a consideraram perfeita demais, apontaram que ela aprendeu a manipular a Força e a usar o sabre de luz em uma velocidade muito acima da média. Bom, de fato a curva de aprendizado dela foi bem acentuada, mas não creio que isso a enquadra em uma personagem Mary Sue. Por exemplo, nosso querido Luke Skywalker, no filme O Império Contra Ataca, virou um Jedi de proporções quase lendárias em poucos dias de treinamento em Dagobah com o auxílio de Mestre Yoda. Não vi muita reclamação a respeito.

Faz-se também uma comparação bastante injusta entre Kylo Ren e Darth Vader. Primeiramente, Vader nunca foi pretendido tornar-se um vilão icônico como fez, é perceptível que no primeiro filme da franquia o vilão é apenas um capanga e que não tinha a imponência que ganharia nos dois filmes posteriores, Kylo Ren nem chega a ser um vilão completo, ainda lhe falta treinamento, como é bem citado pelo Supremo Líder Snoke (Andy Serkis). Se compararmos ao período de treinamento de Luke, os dois jovens tem acessos de raiva e descontrole, Kylo Ren ainda mais, pois não é repreendido por abraçar o lado negro da Força. Seus chiliques são totalmente compreensíveis e importantes para a escalada do personagem. Mas o que mais chama a atenção no personagem é sua tentação a pender para o lado luminoso, o chamado pelo equilíbrio ocorrendo dos dois lados é um ótimo modo de se pensar fora da curva e de colocar um empecilho até então não muito desenvolvido.

Por fim, o filme não renova em roteiro, o que não é necessariamente um problema. É um reboot, que funciona como uma continuação também e o mais importante: o filme é extremamente divertido e empolgante, perfeito para se ver no cinema com a sessão lotada. Como dar menos que nota máxima a este filme? Atualmente temos mais quatro filmes sobre o universo de Star Wars a serem lançados, os episódios VIII e IX, Star Wars: Rogue One e um filme sobre o personagem Han Solo, com título ainda indefinido. Não teremos crise de abstinência de Star Wars por um longo tempo!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Marvel's Jessica Jones - 1ª Temporada!

Definitivamente 2015 é o ano dos fãs de super heróis. Acompanhando o sucesso da série do Demolidor, a Netflix nos brindou com mais este presente. Jessica Jones veio para impulsionar ainda mais as adaptações adultas das HQ's da Marvel. Inspirada na série Alias, de 2001, criada por Brian Micheal Bandis publicada pelo selo Marvel Max, Jessica Jones mantém o clima soturno e sombrio que a série do Homem Sem Medo introduziu, mas conseguindo criar uma identidade própria. A série, criada por Melissa Rosenberg, possui uma boa liberdade em relação ao roteiro de Alias, é possível perceber as referências aos quadrinhos, entretanto a história é independente e pode ser visto sem que se tenha conhecimento prévio.

Jessica Jones (Krysten Ritter) é uma mulher que perdeu os pais e o irmão na adolescência devido a um acidente de carro envolvendo lixo tóxico, após adquirir poderes oriundos do contato com tais toxinas, Jessica assumiu o papel de heroína sob o manto de Safira. Após um grande trauma envolvendo o Homem Púpura (David Tennant), também chamado de Killgrave, Jessica desistiu da vida de heroína, focando em sua carreira como detetive particular.

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A premissa da história já seria motivo suficiente para dar uma espiada na série, enquanto o pensamento mais comum é se imaginar como um herói, sonhar em fazer parte dos Vingadores ou mesmo apenas conhecer seus heróis favoritos, Jessica nada contra a corrente e abdica de toda essa vida de glória. A escolha do elenco extremamente bem feita, e as atuações contribuem ainda mais para tornar a série boa. Krysten Ritter consegue transmitir uma sensação bem parecida com a que sentimos em relação à Jessica dos quadrinhos, apesar de ter passado por situações horríveis, você não consegue sentir pena da heroína. Jessica é uma mulher forte e não precisa disto. Ao mesmo tempo que Krysten consegue motivar uma empatia do público, David Tennant nos proporciona o contrário. Embora o ator seja querido por sua participação em Doctor Who, sua ótima atuação recria exatamente o que o Homem Púpura é: alguém manipulador, sem escrúpulos e completamente repulsivo.

S01E01
Em outras análises, cheguei a ver que a relação de Jessica Jones com Killgrave seria uma analogia para relacionamentos abusivos. De fato, quando li Alias não havia pensado por este ângulo. Após assistir a série isto ficou mais claro para mim. Os feromônios expelidos pelo vilão fazem com que a vítima confunda sua vontade própria com as sugestões vocalizadas por Killgrave. Em todo o momento as vítimas do Homem Púrpura se perguntam se realmente queriam fazer as atrocidades que cometeram a mando dele. Com Jessica não é diferente, por ter ficado mais tempo exposta ao seu poder devido a uma obsessão dita romântica, a heroína se culpa constantemente de suas ações no passado, inclusive por uma ação específica que faz com que a relação entre ela e Luke Cage se torne ainda mais complexa.

S01E12
O final, tanto dos quadrinhos quanto da própria série, é um deleite. É um, cuidado com os spoilers agora, grito de basta e um sinal análogo incrível de libertação. Jessica ficou tanto tempo sob o efeito dos feromônios de Killgrave que criou uma certa resistência. Enquanto nos quadrinhos Jessica apenas incapacita o Homem Púpura levando-o novamente à prisão, na série da Netflix ela simplesmente quebra o pescoço do vilão, o que me deixou boquiaberto e um pouco confuso a respeito do futuro da série. A série já ganha pontos apenas pela escolha de abordagem e por sua base de inspiração e não merece menos que nota 5,0 de 5,0.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O Ultimo Samurai!

Mesmo sendo uma produção hollywoodiana, com uma visão bastante ocidentalizada, o Ultimo Samurai proporciona uma representação bastante interessante sobre o Japão, principalmente quando trabalha com os elementos espirituais nipônicos. O filme é previsível, não apresenta nada de revolucionário, mas mesmo assim dá vontade de rever várias vezes. É possível perceber bem como o filme tem objetivo puramente comercial, não que isso tire os outros méritos da obra, observando o rosto gigante do Tom Cruise estampado no cartaz do filme, como um chamariz. Reparem que este truque é utilizado bastante pra chamar público.

A história começa com o Capitão Nathan Algren (Tom Cruise), que é um militar atormentado pelo passado violento que presenciou ao participar da Guerra Civil americana. Enquanto isto, o Japão reorganizava seu poder central e adentrava na Era Meiji, inciando uma reabertura cultural para o ocidente. Mesmo em total decadência psicológica, Algren é designado para treinar as tropas japonesas para combaterem as milícias compostas pelos samurais, contrárias à ocidentalização. Neste percurso, Nathan acaba sendo capturado em combate, sendo levado para a aldeia liderada pelo Senhor Moritsugu Katsumoto (Ken Watanabe). É aí que a história começa de verdade.

Em seu pico de instabilidade emocional, Algren encontra-se em um lugar desconhecido, o qual possui cultura costumes e diferentes. É aqui que este filme torna-se especial para mim. Deixando todo o clichê de lado, do militar decadente, atormentado pela guerra e que é acolhido pelos heróis e, veja que surpresa, muda de lado na história. Este filme tem algo que difere dos outros blockbusters de Hollywood, a sensibilidade com que o diretor Edward Zwick apresenta e desenvolve a crença xintoísta é realmentbem particular, levando em conta o abismo cultural entre oriente e ocidente.

"But there is indeed something (...)"

A história do Capitão Nathan Algren como um pano de fundo para uma evolução pessoal gigantesca do personagem é tocante. É a melhor representação que eu, mesmo com a visão ocidental que tenho, já vi em quanto à filosofia xintoísta e da relação do homem com a natureza, o espírito e a paz interior. 

Destaco a cena final que coloca a reflexão do Capitão Algren que finalmente encontrou paz consigo mesmo. O monólogo dele sobre espiritualidade e o zen budismo é fenomenal, os elementos xintoístas ali são muito bem colocados. Tudo isto é fomentado pela esplêndida fotografia de John Toll, responsável pela fotografia ganhadora do Oscar de Coração Valente, e com apoio da absurdamente genial trilha sonora incrível de Hans Zimmer, autor das trilhas sonoras de A Origem, Gladiador e diversos outros sucessos. 


Lançado em dezembro de 2003 nos Estados Unidos e em Janeiro de 2004 no Brasil, o longa rendeu quatro indicações ao Oscar, de Melhor Ator Coadjuvante, pela atuação de Ken Watanabe, Som, Figurino e Diretor de Arte. Minha nota sentimental para o filme é 5,0 de 5,0 com coraçãozinho e tudo, mas pensando mais friamente e considerando os pontos negativos, fecho a média em 4,0 de 5,0, assim o Capitão Algren mantém a cabeça no lugar!

Marvel's Daredevil - 1ª Temporada!

Temos aqui o pontapé inicial para os fãs finalmente poderem retrucar a velha provocação de que filmes e obras adaptadas do universo ficcional da Marvel são infantis e coloridos demais. Marvel's Daredevil puxou os pés do universo cinematográfico da editora e, com treze episódios de pura violência, os pôs definitivamente no chão. E este chão é sujo!

Lançada em abril de 2015, a série é uma das melhores adaptações de personagens em quadrinhos que eu já vi, ela nos faz esquecer totalmente do fantasma do filme de 2003, produzido pela Fox. Primeiramente temos o cenário, extremamente escuro, imundo e urbano, exatamente como Hell's Kitchen deve ser. A atmosfera sombria e violenta, certamente pegando elementos das passagens de Frank Miller e da parceria de Brian Michael Bendis e Alex Maleev pelos quadrinhos do Homem Sem Medo, torna a cidade amedrontadora. Raros são os momentos que você deixa de estar tenso enquanto assiste. Acredito que apenas a série Gotham tenha superado a adaptação de cenário de Demolidor.

Embora a série da D.C. comics tenha esta leve vantagem de qualidade neste quesito, as atuações, roteiro e direção são totalmente atropeladas pela série produzida pela Netflix. Charlie Cox (Matthew Murdock) me surpreendeu positivamente, é a primeira vez que vejo um trabalho do ator e que surpresa agradável, Deborah Ann Woll (Karen Page) também não deixou o nível descer, acompanhada por Vondie Curtis-Hall (Ben Urich) e Elden Henson (Foggy Nelson), nosso velho amigo de Efeito Borboleta. Até mesmo Skylar Gaertner (Matt Murdock criança), ator mirim, os quais dificilmente me agradam, estava excelente.

Apesar dos bons moços estarem impecáveis, o grande astro da série é Vincent D'Onofrio. Brilhante em Full Metal Jacket e se renovando agora no atual Jurassic World, Vincent trouxe às telas um Rei do Crime mais incrível do que nos meus mais belos sonhos, ou pesadelos. Seus lapsos raivosos, seus momentos de calma de reflexão sobre seu Reino e o principal: a transição abrupta entre os dois. Estes elementos foram transpostos de maneira magistral, em minha humilde opinião. O Kingpin rouba, com o perdão do trocadilho, a cena na série. Pode parecer estranho falar tão bem de uma série que o vilão acaba tendo mais destaque que o herói, mas acredite, este desbalanço ocorre devido à genial atuação de D'Onofrio e não pela inabilidade artística de Charlie Cox, ambos formam uma dupla incrível, em termos profissionais e dentro da própria construção de personagens no enredo

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Combinando as grandes atuações com roteiros incríveis, o resultado não poderia ser outro. Uma série com nota 5,0 de 5,0. A construção mútua do Rei do Crime e seu antagonista, o Demolidor, é feita brilhantemente. Chamo a atenção para a minha parte preferida, no episódio onze. O diálogo entre Matthew e o Padre Lantom (Peter McRobbie) é o momento de ouro dos roteiristas Steven S. DeKnight e Douglas Petrie, responsáveis pelo episódio, juntamente com a direção de Nick Gomez. Um grande passo para a construção do símbolo que os que desviam do caminho dos justos devem temer.

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Tendo mencionado as nuances técnicas da série, o roteiro e seus atores, o que sobra? Os quadrinhos, claro! Mas como pretendo aqui falar mais sobre a série, me reservarei a pontuar algumas referências que notei e que achei importante destacar ao assistir. O mais óbvio, é a influência das obras de Frank Miller, o qual não poderia ficar de fora de qualquer adaptação do Demolidor. Em outras passagens vemos referências mais específicas, Karen Page em determinado momento da série, devido a acontecimentos que não citarei para evitar spoilers, acaba agarrando-se ao abuso de bebidas alcoólicas. Será que temos aqui um encaminhamento para a Queda de Murdock? Por fim, em um diálogo com Ben Urich, Matt, ainda com sua clássica roupa preta de ninja, faz alguns questionamentos sobre o tráfico de heroína na cidade. Nos papelotes há desenhado o símbolo do Serpente de Aço, o qual é mencionado por Urich. Na época que a série saiu, isto era o mais próximo de uma possível confirmação da produção de uma série do Punho de Ferro, por um curto período houveram oscilações nas informações, o que deixava os fãs apreensivos. 
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Atualmente as séries do Punho de Ferro, Luke Cage e dos Defensores aparecem no painel de busca da Netflix, o que indica que o futuro nos reserva coisas interessantes.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Demolidor - O Homem Sem Medo!


Nesta coleção, dividida em cinco edições, temos a reformulação da origem do famigerado Homem Sem Medo pelas mãos do icônico Frank Miller, acompanhado da bela arte de John Romita Jr. O ano é 1993 e após a incrível repaginação do Demolidor em seu volume um, em arcos como a Saga de Elektra, Roleta Russa e o aclamado Queda de Murdock, Frank Miller retorna agora para retomar as origens de Matthew Murdock, desde sua infância até seus tempos de faculdade, onde conhece Foggy Nelson, seu melhor amigo, e Elektra, seu grande amor e, por que não colocar assim, uma de suas maiores pedras no sapato. Não esconderei aqui que o Demolidor é um dos meus personagens favoritos, tenho minhas dúvidas se ele já não ocupa o topo de minha preferência e Frank Miller é um dos grandes responsáveis por isto.

Na minissérie preludial Miller resgata a origem e início de desenvolvimento do Demolidor e seu alter ego Matthew Murdock, começando com o clássico acidente com lixo tóxico. Na tentativa de salvar um idoso que atravessava a rua de ser atropelado, Murdock acaba cego e devido o contato com um isótopo radioativo desenvolve supersentidos. Entretanto o ponto alto da coleção, ao meu ver, é a atmosfera que ela cria, principalmente em sua quinta e ultima edição. Embora outras sagas evidenciem muito mais o lado obscuro das HQ's do Demolidor, John Romita Jr consegue colocar esta questão de uma maneira única, sua arte aparentemente suja e desleixada dá um ar soturno e noir ao quadrinho que enriquece muito a personalidade do Demolidor, tal qual o universo urbano que ele protege. A maravilhosa combinação de arte e roteiro fazem com que o Demolidor e Hell's Kitchen sejam indissociáveis.

Matthew não passa de um menino assustado no começo, e com razão, no entanto sua escalada é apresentada de uma maneira bastante envolvente. Inicialmente vemos sua relação com o pai, que em um pedido irônico clama ao filho que não fizesse como ele e usasse os punhos para viver, neste período Stick entra em quadro e começa o treinamento de Matthew. Posteriormente Murdock vai à faculdade e conhece Elektra e Foggy e por fim, começa a usar sua roupa preta para inciar sua jornada como vigilante.

Estes fatos isolados não dizem muita coisa sobre o personagem. É como Miller liga os pontos entre eles que dá o tom certo ao diabo de Hell's Kitchen. O roteiro, com apoio da arte, enfatiza o quão Matthew Murdock é humano, ele comete erros e é levado por seus sentimentos, faz besteiras impulsionadas por instintos adolescentes e se machuca, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Se você não se sente bem ao ver um personagem falho e quebrado, talvez este não seja o melhor herói para acompanhar. Caso se interesse, saiba que o Demolidor é alguém bastante atormentado por seu passado e por suas escolhas e este é um bom começo para o conhecer, esta revista é um ótimo material para se ler antes, ou mesmo depois, de assistir a primeira temporada da série Daredevil, produzida pela Netflix, diversas referências são feitas, o que pode otimizar seu aproveitamento da mídia. Com uma nota 4,5 de um total de 5, a minissérie em cinco edições Demolidor – O Homem Sem Medo, mantém sua cabeça intacta!